(Sinopse do filme)
“Certo dia, em pleno voo, o piloto de um avião atira por uma janela a garrafa de vidro
de Coca-Cola que acabara de beber. Inicialmente, esse artefacto estranho parece ser um
presente dos deuses, com muitos usos a serem descobertos. Mas, na tribo, os conflitos
foram aumentando, já que há somente um frasco para dividir entre todos os seus elementos. Então, decide-se que o frasco, portador de divisão entre o povo, deve ser banido do mundo. Xi, membro da tribo, oferece-se para a tarefa, e, enquanto viajava para cumpri-la, encontra membros da civilização ocidental pela primeira vez. O filme apresenta uma visão diferente da civilização vista por Xi”.
No decorrer da passada semana, as notícias das televisões inundaram as nossas
casas com as tentativas de resgate do submersível Titan, que baixou ao fundo do oceano
com cinco pessoas a bordo. O impensável acabou por acontecer, e a viagem turística
de sonho transformou-se num pesadelo sem viagem de regresso, em consequência da
implosão que destruiu por completo o pequeno submarino. Na catástrofe, todos os ocupantes pereceram, sem que os abundantes meios e esforços dispensados nas operações
de resgate tivessem surtido qualquer efeito.
É verdade que, para o salvamento de vidas humanas, nunca são demais esforços e
meios, mas este triste e indesejável episódio, explorado pelos media até à exaustão, com
as televisões a transmitirem opiniões de comentadores de manhã à noite, trouxe ao de
cima um enorme contracenso. Com efeito, o tratamento mediático dado ao desastre do
Titan contrasta de forma arrepiante com a pouca atenção que mereceu o naufrágio da
barca sem nome onde centenas de refugiados, igualmente inominados, perderam a vida
ao largo do Mar Mediterrâneo.
A pobreza não dá audiência, e o assunto é demasiado delicado, para se suscitar com
seriedade um debate ou reflexão nas televisões. Faltou também dizer que aqueles náufragos vinham em fuga para uma vida melhor e não em viagem turística. Endividaram-se para custear a passagem e acabaram por pagar com a própria vida a ousadia de desejar
um futuro melhor para si e para os seus filhos. Com eles, todos os seus sonhos foram
ao fundo!
Lamentavelmente, este foi apenas mais um episódio de uma longa metragem dramática
sem fim à vista. E onde estavam então as entidades políticas, os comentadores, os
media, e as televisões que tanto eco produziram (embora com ausência de verdadeiro
jornalismo) sobre o desastre do Titan?
TAMBÉM ESTES DEUSES DEVEM ESTAR LOUCOS!
O mundo é dos ricos. A miséria e a pobreza cheiram mal, e por isso se levantam hoje
muros cada vez mais altos para as ocultar. Mas, por detrás desses muros levantados pelas
“línguas dos cuspidores, como cobras políticas”, elas estão lá, do outro lado do mar,
e talvez um dia os muros sejam derrubados pelo oprimido – a própria história o ensina!
ESTAMOS PERANTE UNS DEUSES LOUCOS