Num mundo onde não existe apenas um polo de poder, como aconteceu até agora, a cooperação entre os povos torna-se cada vez mais importante. Só assim poderemos evitar conflitos que ensombrem o futuro.
Não podemos dividir a sociedade internacional entre bons e maus, não devemos confundir regimes e governos com os povos desses países. Apenas respeitando as opções políticas de cada governação, concorde-se ou não com ela, poderemos almejar tempos de paz.
Sancionar países por não concordarmos com as suas políticas internas ou externas nada resolve, apenas dificulta a vida dos seus habitantes: impedir desportistas de participar em provas internacionais ou artistas de atuar no estrangeiro, constranger relações económicas internacionais ou apertar a política de vistos, quaisquer constrangimentos culturais, económicos, políticos ou sociais, apenas servem para aumentar tensões entre os povos. Tem de se encontrar um compromisso entre os poderes mundiais!
Quando a Rússia e a China celebram acordos com países africanos e da América do sul, as forças que avisam “cuidado, vão pagar caro”, estão a passar um atestado de menoridade a esses países, esquecendo que “já estão crescido” e sabem bem o que querem. Os paises europeus, depois da descolonização, tentaram criar sucedâneos dessa exploração através de relações neocoloniais. A França e o o Reino Unido são bons exemplos disso, além dos EUA. Os PALOPS encarnam uma situação diferente, pois o país mais influente não é o país colonizador, Portugal, mas o Brasil e Angola.
E veja-se o apoio que se dá a Israel e a forma como se desvaloriza a condenação do genocídio na Palestina.
Não foi por acaso que o Raide de 1990 optou por um trajeto diferente de expedições anteriores.
– Entre 1984 e 1986 Amílcar Carvalho tinha tentado entrar na China através do Paquistão, tendo acabado por abandonar a viatura neste país, uma vez que não obteve autorização para atravessar a China. Vem tudo relatado em três números da revista Macau.
– Em março de 1987, o antropólogo Zica Capristano e sua esposa Judite Capristano empreendem uma longa travessia num UMM, tentando ligar Lisboa a Macau, através da Europa, Turquia, Irão, Paquistão, India, Nepal e daqui voando para Hong Kong, de novo por ter sido interditada a travessia da China, regressando de comboio até Bombaim, e daqui por barco até Lisboa.
A viagem encontra-se documentada em livro. Ao todo, foram 70 dias.
– Em 1988, três UMMs realizaram com êxito o que designaram por I Raide Terrestre Macau-Lisboa, abrindo assim caminho a outras expedições semelhantes, atravessando a China, Paquistão, Irão, Turquia e Europa. Existe página no Facebook e livro publicado.
Em 1990 atravessar a China já não era problema, mas a partir da RPC os raidistas optaram por um itinerário através de zonas proibidas a viaturas estrangeiras e que, inclusive, sofriam sanções internacionais, uma vez que eram Repúblicas da então URSS: entraram no Cazaquistão através da Fronteira da Amizade, no norte da China, Quirguistão, Uzbequistão, Turquemenenistão, Azerbaaijão, Geórgia, Rússia, Ucrânia, entrando na Europa pela Hungria.
Conscientes de que as sanções nada resolvem, uma vez que quem sofre é o povo e não os governos dos regimes que se tenta substituir, tudo tentaram para atravessar o que mais tarde seria a nova rota da seda, a que juntaram a divulgação da cultura de Macau, da China e de Portugal. Usaram a distribuição de livros e outro material para ultrapassar fronteiras e mostrar que, no essencial, os povos não diferem entre si, a humanidade é só uma, independentemente dos regimes de cada país.
E a missão foi cumprida!