Aproximam-se tempos perigosos mas interessantes. E há um elefante na sala, de que pouco se fala e quase ninguém quer ver
Escrevo poucos dias depois da escassa maioria da AD chegar para afastar o PS do poder, mais por erros deste partido que por méritos da coligação. Apesar de existirem fortes possibilidades, contados os votos da imigração, do PS somado ao resto da esquerda virem a ter maioria de deputados, este partido já passou “a batata quente” para o PSD, isto é, cabe-lhe tratar da viabilização do governo e orçamento com o Chega. A direita tem maioria, com ou sem “não é não”!
Muito dificilmente, ao fim de oito anos afastada do poder, a direita rejeitará “voltar ao pote”!
Aproximam-se tempos perigosos porque, sem o Chega, a AD mais IL dificilmente conseguirão governar, o que implicará um governo onde o populismo, a xenofobia, o racismo e outros nefastos ismos estarão presentes… como se já não chegasse o neoliberalismo (baixa do IRC, privatizações, diminuição das competências do estado) que um acordo AD e IL implicam.
Mas também serão tempos interessantes, observando de que forma Montenegro e Marcelo irão gerir o “não é não” ao Chega, a que acrescem pressões para a revogação dessa decisão: Ventura ameaça; membros do PPM e CDS descartam promessas da AD; Passos, Relvas e várias outras personagens ligadas ao PSD lançam sinais claros de que a estabilidade passa pela “normalização” do Chega; bem como descobrir se a inconsistência do PAN e do Livre levará estes partidos a “dar uma mãozinha” à dita direita democrática…
O elefante na sala é a situação internacional, cujo desenvolvimento irá, e muito, influir sobre as decisões internas dos países europeus. Perante a evolução da guerra na Ucrânia, basta ouvir o presidente francês Emmanuel Macron e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, para perceber que, mais tarde ou mais cedo, o envio de tropas da NATO para combater será decisão a considerar (a Rússia tem de perder a guerra!).
Aceitarão os portugueses enviar os seus filhos para a guerra ou preferirão o combate pela paz? E quais são os partidos portugueses que abertamente condenam a continuação da guerra? Sem dúvida apenas o PCP, coerência que muito tem contribuído para uma menor representação parlamentar, mas que continua a resistir apesar da morte já há muito anunciada. E talvez o BE?
Apesar de não ter sido matéria discutida durante a campanha eleitoral, a verdade é que essa assustadora possibilidade paira no horizonte, qual mostrengo que baralhará o equilíbrio político nacional.
O surgir duma Nova Ordem Internacional irá influenciar, em diversos aspectos, a política interna dos países.