Na pacata cidade de Castelo Branco, onde os dias correm devagar e as promessas eleitorais ainda mais devagar, assistimos a um espetáculo digno de nota: o Presidente da Câmara, Leopoldo Rodrigues, resolveu arregaçar as mangas e inaugurar com pompa uma rua requalificada. Sim, leu bem, uma rua! Não uma nova escola, um hospital, ou sequer um jardim, mas uma rua. E se isso já não fosse motivo suficiente para rebentar foguetes, o ilustre edil também anunciou, com a habitual solenidade, que mais uma artéria da cidade vai ser alvo das suas atenções, desta vez com obras de larga escala.
Não nos interpretem mal. Requalificar ruas é, sem dúvida, essencial. Afinal, ninguém quer conduzir num cenário que mais parece saído de um filme de guerra. Mas quando o principal feito do presidente é arranjar buracos e trocar canos, talvez devêssemos repensar as nossas prioridades. Ao que parece, Rodrigues tem a arte de transformar o ordinário em extraordinário, inaugurando asfalto como quem corta fitas de grandes projetos revolucionários.
A Rua Dadrá, alvo da mais recente intervenção, é agora um exemplo de “modernização”. Palavras do próprio presidente, que não hesitou em afirmar que estas obras “melhoram as condições de fornecimento de água e requalificam o coletor de águas residuais”, garantindo, assim, “a proteção do ambiente e a salvaguarda da saúde pública”. Uma verdadeira epopeia, digna de ser cantada em versos heroicos, se não fosse pela triste realidade de que tais obras, apesar de necessárias, são o mínimo esperado de qualquer gestão municipal minimamente competente.
Porém, a obra na Rua Dadrá não foi um caso isolado. Aparentemente, as redes de abastecimento de água e águas residuais na cidade estão prestes a receber uma lufada de ar fresco. Ou, melhor dizendo, uma descarga de dinheiro público. A nova empreitada, que cobrirá as Ruas dos Combatentes da Grande Guerra e dos Bombeiros Voluntários, tem um orçamento de quase 400 mil euros e um prazo de execução de 270 dias. Um verdadeiro presente de Natal antecipado para a empresa João de Sousa Baltazar, S.A., que terá o prazer de realizar o trabalho.
A pergunta que fica no ar é: será que Leopoldo Rodrigues acredita realmente que estas obras irão conquistar os corações dos albicastrenses? Ou estará ele a tentar desesperadamente mostrar algum serviço, antes que o criticismo se transforme em algo mais concreto do que meros rumores? Afinal, até agora, as suas promessas eleitorais permanecem tão sólidas quanto fumo ao vento. O que vale é que sempre podemos contar com o nosso presidente para nos lembrar que as ruas, essas sim, estão em boas mãos.
E enquanto a população se depara com rotundas renovadas e esgotos requalificados, as grandes questões da cidade continuam sem resposta. As propostas que levaram Rodrigues ao poder permanecem no reino das ideias, não das realizações. Mas, pelo menos, podemos dormir descansados sabendo que, se há algo em Castelo Branco que será requalificado, será o chão sob os nossos pés. Mesmo que os sonhos de uma cidade melhor continuem a ser apenas isso: sonhos.