A recente homenagem a Joaquim Morão, ex-autarca de Idanha a Nova e Castelo Branco, deveria ter sido um reconhecimento sincero dos seus serviços à comunidade. Contudo, o jantar numa quinta da cidade albicastrense rapidamente se transformou num evento politizado, com envio de mensagens e emails para os camaradas do Partido Socialista marcarem presença, orquestrado pelo atual presidente Leopoldo Rodrigues, outro delfim de Morão
Este espetáculo, repleto de manobras que fariam corar o mais hábil dos toureiros, não parou por aqui. Num desdobramento digno de uma novela, Morão foi agraciado com a chave de ouro da vila de Idanha-a-Nova, uma honra outorgada pelo município que deixou muitos a questionar a verdadeira natureza destes gestos.
Como se não bastasse, o presidente da câmara, Armindo Jacinto, decidiu também entrar na arena, tornando-se a cabeça de cartaz numa corrida de touros integrada este ano na feira Raiana. Este ato revelou mais sobre a governação destes dois “toreros” da política local do que qualquer discurso poderia fazer. A dinâmica entre Morão e Jacinto, padrinho e afilhado, é uma toirada constante, onde as suas faenas são meticulosamente coreografadas para assegurar que o poder se mantenha firmemente nas suas mãos.
Morão, o “Comendador”, tem uma longa carreira de bandarilhas políticas, navegando habilmente entre processos judiciais e polémicas. A sua capacidade de se manter à tona, mesmo nas águas mais turvas, demonstra a sua mestria na arte de tourear adversários e situações adversas. Ele personifica o toureiro que, no meio da arena, sabe exactamente quando desferir o golpe final.
Jacinto, por outro lado, aspira a ser mais do que o capinha que entra em cena nos momentos finais. Com pretensões a feitor, ele ainda não passa de um aprendiz que tenta ganhar o favor do público, manipulando a opinião pública e acomodando as vacas e o touro no curro. A sua presença na corrida de touros é uma metáfora perfeita para a sua abordagem à política: um espectáculo que visa distrair e cativar, mas que carece da substância e da habilidade do seu mentor.
Não podemos esquecer as medalhas, as menções honrosas e os recortes de jornal das suas epifanias, guardados num móvel feito à medida, de parede a parede, nas suas casas, para albergar tantas e tão grandes memórias com o espólio para as suas gerações futuras. Quem sabe, se não aparece alguém a propor escrever as memórias com todos os actos figurados e desfigurados das reinações destes grandes mentores da política “selvagem rural” local. Se bem escrito, até poderá vir a ser inserido no plano de estudos nacional, para ensinar os alunos de ciências políticas sobre o exemplo a não seguir, que a história virá contar.
À medida que se aproximam as próximas eleições autárquicas, podemos esperar uma série interminável de homenagens e eventos politicamente carregados. Cada um destes momentos será cuidadosamente planeado para projectar uma imagem de magnanimidade e competência, numa tentativa desesperada de assegurar votos e apoio para o seu candidato escolhido. Estes dois mestres da toirada política “selvagem rural” local sabem que a sua sobrevivência depende da capacidade de encantar e seduzir o eleitorado, mesmo que para isso tenham que recorrer a manobras menos dignas.
Em suma, a saga de Joaquim Morão e Armindo Jacinto é uma verdadeira tourada política, onde os valores e a ética são frequentemente sacrificados em prol da manutenção do poder. Enquanto se preparam para mais um ano de faenas eleitorais, a população de Castelo Branco e Idanha-a-Nova só pode assistir, na esperança de que, eventualmente, a justiça prevaleça e que a arena política se torne um espaço de verdadeira democracia e respeito pelo bem comum. Até lá, resta-nos observar o desenrolar deste espetáculo, onde cada homenagem, cada chave de ouro e cada corrida de touros são passos calculados na dança intricada da política local.
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