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O Soba da Cultura

O soba da cultura e da natureza.

Se tradicionalmente este era um cargo administrativo, com autoridade bem limitada, subordinado, manipulado, forçado pelos colonialistas portugueses a manterem as populações na ignorância e subserviência, na Huíla surge, com Valdemar Ribeiro, um interessante cruzamento entre ecologia e educação. Aproveitando a tradição dos sobas rebeldes dos sertões do antigo Ndongo, que não deram vida fácil aos portugueses, o sociólogo e visionário luta contra a ignorância patrocinando bens imateriais ligados ao real, em contraste com feitiçarias e outros poderes mágicos.

As suas aldeias são casas de cultura e defesa do ambiente, transformando a sabedoria dos mais velhos em ciência.

Por iniciativa do “Professor”, como é conhecido nos meios culturais do Sul de Angola, em 2014 nasceu a Fábrica de Engarrafamento de Água Preciosa, a mais de 2000 metros de altura, que desde logo apontou para um mecenato que se focasse nos aspectos sociais, ambientais e económicos. Talvez este apego à preservação da natureza tenha surgido durante a sua estadia entre os índios Xingu, onde a luta pela sobrevivência marcou Valdemar definitivamente.

Conheci o meu amigo, ainda em Angola, anos antes de partir para o Brasil, sedento de aventuras e novas experiências. Aí conheceu Tupã, índio Mehinako que o conduziu à pequena cidade de Atyrá, que em guarani quer dizer “local de reunião”, onde iriam acontecer debates e outras iniciativas relacionadas com a precária situação dos indígenas na América do Sul. Atyrá é considerada a “Ciudad más limpia del Paraguay”, a sétima mais saudável da América e a oitava do mundo. No centro das discussões estava a urgência em preservar a água como o bem mais precioso de todos. Encantou-se ao descobrir que naqueles lugares pairavam tradições muito parecidas com as da sua terra e partiu, num barco à vela, em busca do sonho de se tornar guardião daquele precioso liquido, em algum local das planuras angolanas.

Com o patrocínio da Água Preciosa e o apoio do Clube de Pensadores, espaço de discussão pública e exercício democrático mediados pelo biólogo Joaquim Jorge, cria em 2019 a Academia de Autores da Huila, com o objectivo de recolher obras e trabalhos de escritores e candidatos a escritores, para possível publicação em livros digitalizados, e-books e audio-books, e posterior divulgação na província, nas escolas e em todas as instituições de Angola.

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Produz programas de rádio e podcasts em Okuvita RNA, edita a Revista Okuvita Académica, intervém em conferências e simpósios onde, num discurso simples e ousado, desperta o amor pelo bem estar do ambiente e a importância de partilhar a liberdade de pensamento. E organiza frequentes visitas escolares aos seus espaços florestais preservados.

Em 2023 a Academia de Autores em parceria com o Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) criou a Associação Ecológica e Ambiental “Omuntiati”, para a defesa da biodiversidade. A próxima grande aposta será desenvolver a ONG LITERÁRIA “ASA-HUÍLA”, com diversos projectos em carteira em defesa da democracia, da literacia e do ambiente.

Desde sempre que a sua voz quente e pausada irradia poesia e lirismo, assumindo apaixonadamente os desafios que brotam do seu interior. Muitos seguem sonhos mas poucos atingem esses objetivos.

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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