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O Madeiro de Natal

O Município de Penamacor aposta forte na celebração da tradição do Madeiro, criando inclusive uma página digital designada Penamacor Vila Madeiro, de onde retiramos estas expressivas linhas

O Madeiro de Natal
Vila Madeiro

Vem de mansinho com o avançar da estação. Sente-se nos aromas que se evolam das florestas húmidas, nos cheiros que se desprendem dos telhados, no brilho das luzes, no calor do fogo. Tudo sensações que se multiplicam e se ampliam com o aproximar da data. E há um frémito que percorre os corações dos homens, mulheres e crianças. Uma leve ansiedade que não ensombra, antes ilumina corações e almas, desejosas do encontro e da celebração. É o Natal, com todas as suas tradições! E aqui, em Penamacor, temos a maior tradição, temos o maior Madeiro de Portugal. 

Cabia aos jovens com idade de se tornarem mancebos o corte das árvores, constando que em 1968, talvez influenciados por lutas estrangeiras mas com reflexo em Portugal, chegaram a existir alguns tumultos. Diga-se que, hoje em dia, as raparigas também já “entram na festa”. 

Na verdade, tempos houve em que encontrar lenha para o Madeiro era tarefa bem mais complicada. Dependentes da boa vontade das casas ricas locais, cujas ofertas ficavam aquém do desejado, os jovens viam-se na necessidade de roubar lenha, bois e carros, tudo a coberto da noite. Esta tradição esteve sempre ligada a transgressão relativamente consentida, a palavra roubar adquiria um significado diferente, já que o madeiro roubado se destinava a servir o bem da comunidade, alimentando a fogueira para aquecer o Menino Jesus..  

Curiosamente, esta prática também se reflete como salvaguarda do ambiente, pois o corte implica a plantação de novas árvores, de forma a que as próximas gerações possam ter matéria para continuar a tradição, assim regenerando os sobreiros usados para o Madeiro. 

Curioso será encontrar em Miguel Torga, no seu livro Novos Contos da Montanha, uma alternativa ao aconchego do fogo, caso tal seja necessário, como em 2021, devido à pandemia de Covid, em que a tradição não se cumpriu. 

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Todo o calor possível seria o do forno do povo, permanentemente escancarado à pobreza. Em todo caso sempre era passar a noite santa debaixo de telhas conhecidas, modorra dum borralho de estevas e giestas familiares, a respirar o perfume a pão fresco da última cozedura…  

Segundo António Cabanas no seu livro Eh, Madeiro! Símbolos e Tradições de Natal, “Durante toda a noite há pessoas à volta da fogueira, rindo, cantando, assando e comendo chouriças e carnes. O garrafão do vinho acompanha e alegra todos os presentes. Em Penamacor, onde a noite natal é vivida com intensidade, cheia de luz e brilho, com serões inesquecíveis, à volta da fogueira do madeiro contam-se histórias e peripécias passadas e cantam-se cantigas em quadra” 

Muita animação, concertos, mercado de natal, gastronomia, tasquinhas, exposições, espaços lúdicos para as crianças, workshops, assim se vive no maior Madeiro de Portugal, que acontece em Penamacor de 7 a 25 de dezembro de 2023. 

No ano em que se comemora os vinte anos da Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (UNESCO), a Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC) quis celebrar e divulgar a riqueza do nosso património imaterial, pondo em evidência um significativo conjunto de manifestações que estruturam o Saber Ser e o Saber Fazer das nossas comunidades: a Prática Tradicional do Madeiro em Penamacor faz parte, evidentemente, dessa listagem. O passo seguinte será apresentar a candidatura do Madeiro de Penamacor à lista de património imaterial da UNESCO. 

Lembramos este excerto de um poema de Carlos Cruchinho, estudioso da Tradição do Madeiro, publicado na Revista Amar em Dezembro de 2020  

 Ó Madeiro, ó Madeirinho 

Habitas na memória ancestral 

Deste povo raiano, 

Ó, madeiro, ó madeirinho 

Quantos troncos e pernadas 

Tens de azinho. 

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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