Trabalhadores da Sociedade Mineira do Cuango (SMC) na Luanda Norte dizem-se surpresos com balas reais e gás lacrimogénio, resultado do confronto com a polícia. Há relato de grevistas detidos e vários feridos.
Em greve desde Julho, os operários denunciam que estão a ser impedidos de abandonar a mina pela polícia nacional, que também está a coagir os trabalhadores a voltarem ao trabalho.

No entanto, Ferraz Afonso, responsável da Comissão Sindical da Sociedade Mineira do Cuango, sinaliza que as coisas na mina estão feias, com os trabalhadores a serem perseguidos por aquelas forças de defesa e segurança, que têm semeado terror desde sexta-feira passada, provocando a fuga de alguns operários para as matas.
O sindicato fala em desaparecimento de alguns trabalhadores e de alguns detidos, que se encontram encarcerados no Comando Municipal do Cuango, Luanda Norte, uma província no norte de Angola.
“Nós estávamos na cancela, quando os homens de defesa e segurança nos surpreenderam com tiros e gás lacrimogénio. A atitude da polícia gerou uma revolta entre a polícia e os trabalhadores, apesar dos meios bélicos em sua posse. Os colegas foram detidos, porque alguns estavam em frente como piquete da greve, quando a polícia queria que nós arrancássemos os colegas, os colegas disseram que não podemos arrancar à força, porque a nossa greve é legal e vocês não nos podem obrigar. E empresa nem quer saber disso”, lamentou o sindicalista Ferraz Afonso.
De acordo com o sindicato, já se passaram dois dias desde que alguns trabalhadores fugiram para matas e ainda não apareceram, daí que, neste momento, um grupo se desdobra para localizar os demais colegas.
As razões da greve
No dia 20 de Julho, os operários da Sociedade Mineira do Cuango decidiram paralisar todos os trabalhos, por falta de resposta das preocupações apresentadas à Gerência do Conselho de Administração da empresa.
Entre outros pontos, a comissão sindical da Sociedade Mineira do Cuango apenas pede condições de trabalho, seguro de saúde, melhoria salarial e subsídio de risco que, para os grevistas, a entidade patronal faz ouvidos de mercador em relação ao assunto.
O nosso entrevistado, no caso Ferraz Afonso, líder sindical da Sociedade Mineira do Cuango (SMC), revela que, por causa da greve, a gestão da mina chamou a Polícia Nacional, as Forças Armadas Angolanas e a Polícia de Guarda Fronteira, para impedirem a saída dos operários que trabalham em regime internato.

O sindicato conta que os trabalhadores que fugiram para as matas, neste momento, estão sem comida e nem água, sendo que temem regressar à base da Sociedade Mineira do Cuango com medo de represálias.
“Na mata eles estão sem comida, sem água, sem nada cativado. O carro que nos estava a transportar no bairro foi bloqueado. E a direcção da empresa convocou um exército, vamos dizer que é um exército. Polícia de Intervenção Rápida (PIR), Polícia, Forças Armadas Angolanas (FAA) e Polícia Fronteiriça vieram em prontidão, quem não trabalhar, vão-nos matar ou vamos levar na cadeia”, denunciou Ferraz Afonso.
Diamantífera reage
Ao O Regiões, o presidente Conselho de Administração da Sociedade Mineira do Cuango, Artur Jorge Gonçalves, refuta todas as informações dos trabalhadores, classificando-as de falsas e aponta os operários como estando na base do impedimento da saída dos gestores da mina.
Artur Jorge Gonçalves também falou que a presença das forças de defesa e segurança da polícia nacional servem para proteger as estruturas, embora a iniciativa resulte da providência cautelar apresentada pela diamantífera, onde o tribunal decidiu a favor da SMC, exigindo a suspensão da greve dos trabalhadores.
“Quem está retido na base somos nós e não eles. Eles é que não nos deixam sair nem entrar na base, ou seja, os trabalhadores, que nesta altura já não podiam estar em greve, porque nós intentamos uma acção judicial ao tribunal, por entendemos que a greve não era legal, seguindo os preceitos legais, conduziram à solicitação de uma providência cautelar”, contrariou o responsável do conselho de administração da Sociedade Mineira do Cuango.

Artur Jorge Gonçalves especificou que, em relação ao caderno reivindicativo, a empresa já respondeu a todos os pontos apresentados pelos trabalhadores, mas que as preocupações estão a ser avaliadas, já que, há dias, houve negociações neste sentido.
Saliente-se que as atividades na Sociedade Mineira do Cuango começaram em efetivo em Dezembro de 2004, com uma área de 3000 quilómetros de extensão na zona do rio Cuango, tendo resultado de uma parceria entre a estatal Endiama, diamantífera pública angolana, a ITM e a Lumanhe.